FED está bem posicionado para esperar por clareza, diz ata

Resumão – Ata do FOMC (6-7 de maio de 2025)

  • Postura atual: Fed manteve a taxa-alvo dos Fed Funds em 4,25 %-4,50 % e sinalizou pausa cautelosa – aguarda novos dados antes de qualquer movimento.

  • Viés de política: Tom ligeiramente hawkish: preocupação dominante é que a inflação siga acima da meta; contudo, reconhece riscos de desaceleração, mantendo a porta aberta tanto para mais aperto quanto para futuros cortes.

  • Divergências internas: Não houve votos dissidentes, mas:

    • Maioria foca no risco de inflação persistente.

    • Alguns destacam o enfraquecimento do crescimento e do emprego como possível freio inflacionário.

  • Expectativas de mercado: Curva futura precifica 1-2 cortes de 25 pb no fim de 2025, mas sem pressa – tudo dependerá dos próximos números de inflação e atividade. A mensagem de “esperar e ver” contém o otimismo dos ativos de risco.

  • Cenário de projeções: Staff reviu o PIB para baixo (tarifas comerciais pesam) e a inflação de 2025 para cima, mas ainda prevê convergência à meta até 2027; probabilidade de recessão agora quase igual ao cenário-base de expansão.

  • Próximos passos possíveis: Se a inflação ceder e o mercado de trabalho enfraquecer, cortes graduais podem começar no 4ºT / 25; se a inflação surpreender para cima, o Fed admite manter juros altos por mais tempo ou até elevar novamente.

Impactos Esperados sobre os Juros Futuros

A ata do encontro do Federal Open Market Committee (FOMC) em 6–7 de maio de 2025 indica que o Comitê optou por manter a taxa básica de juros (federal funds rate) na faixa alvo de 4¼% a 4½% e adotar uma postura de espera. Os participantes avaliaram que, com o crescimento econômico e o mercado de trabalho ainda sólidos e a política monetária já em terreno moderadamente restritivo, o Comitê estava “bem posicionado para aguardar maior clareza” quanto às perspectivas de inflação e atividade antes de promover novos ajustes. Em outras palavras, prevaleceu a visão de que não havia urgência em alterar os juros naquele momento. O Comitê julgou apropriado manter o curso atual, inclusive prosseguindo com a redução dos títulos no balanço do Federal Reserve, enquanto monitora de perto os próximos dados econômicos.

Essa estratégia implica que, no curto prazo, os juros deverão permanecer estáveis, a menos que surjam mudanças significativas no cenário. Os membros ressaltaram a incerteza elevada sobre as perspectivas econômicas, concordando que seria apropriado agir com cautela e basear qualquer ajuste futuro dos juros nas evidências concretas da evolução da inflação e da atividade. Todos concordaram que, na avaliação da postura monetária adequada, o Comitê continuará monitorando as implicações das informações econômicas entrantes e estará preparado para ajustar a política “conforme apropriado, caso surjam riscos que possam impedir o alcance dos objetivos do Comitê”. Portanto, o impacto esperado sobre os juros futuros é de uma trajetória dependente dos dados: o Fed deve manter as taxas no patamar atual no horizonte próximo, com possíveis mudanças (seja elevações adicionais ou cortes) ocorrendo apenas se a dinâmica da inflação ou do crescimento desviar-se materialmente do esperado.

Sinais de Mudança na Política Monetária (Hawkish, Dovish ou Neutros)

No geral, o tom da ata pode ser descrito como cauteloso e equilibrado, com viés levemente hawkish. Por um lado, o Comitê enfatiza que a inflação permanece acima da meta de 2% e expressa preocupação de que ela possa permanecer persistentemente elevada. De fato, “quase todos” os participantes salientaram o risco de a inflação se mostrar mais persistente do que o antecipado, reforçando um sinal hawkish (contracionista) – ou seja, uma inclinação a manter uma postura rígida até haver evidências claras de alívio nas pressões de preços. Os membros reafirmaram seu compromisso com a meta de 2% e destacaram a importância de manter ancoradas as expectativas de inflação de longo prazo, indicando que não hesitarão em agir para conter a inflação caso necessário.

Por outro lado, os formuladores de política reconheceram riscos bilaterais e adotaram um tom de prudência que indica ausência de pressa em apertar ainda mais as condições monetárias. A ata observa que a incerteza aumentou significativamente e que o Comitê está atento aos riscos em ambas as frentes do duplo mandato (emprego e inflação). Esse reconhecimento de riscos de desaceleração do crescimento ao lado de riscos inflacionários sugere uma postura geral neutra a ligeiramente contracionista. Em resumo, não houve um sinal claro de afrouxamento (dovish) imediato, mas também não se indicou um viés de novas altas agressivas – ao contrário, prevaleceu a mensagem de paciência e vigilância. O Fed sinalizou que permanecerá observando os dados e somente agirá (para mais aperto ou eventual afrouxo) se o cenário exigir, o que configura uma comunicação de política monetária prudente e calibrada.

Divergências entre os Membros do Comitê

A ata não revela divergências profundas entre os membros do FOMC nesta reunião – a decisão de política foi unânime ao manter os juros, com todos concordando em esperar por maiores certezas. No entanto, as discussões apontaram diferenças sutis de ênfase entre os participantes. Conforme citado, quase todos os membros manifestaram forte preocupação com a inflação, avaliando o risco de ela continuar elevada por mais tempo que o previsto. Essa maioria parece focar-se em assegurar a convergência da inflação à meta, indicando uma postura mais vigilante quanto a pressões de preços.

Por outro lado, alguns participantes enfatizaram as consequências dos riscos negativos para a economia. A ata registra a observação de que “pressões inflacionárias poderiam ser atenuadas caso se materializassem riscos de baixa para a atividade econômica ou o mercado de trabalho”. Em outras palavras, uma minoria de membros sinalizou que, se houver uma desaceleração econômica significativa, isso provavelmente aliviará a inflação, reduzindo a necessidade de políticas mais duras – uma perspectiva um pouco mais dovish. Essas diferenças refletem sensibilidades distintas dentro do Comitê: enquanto a maioria está mais preocupada com a possibilidade de inflação alta persistente, outros monitoram o potencial enfraquecimento do crescimento e do emprego. Apesar dessas nuances, é importante ressaltar que nenhum membro discordou formalmente da decisão ou apresentou voto dissidente, indicando um consenso fundamental na estratégia de curto prazo.

Reações do Mercado Previstas com Base nas Sinalizações do Documento

As sinalizações presentes na ata sugerem determinadas reações prováveis dos mercados financeiros. Em primeiro lugar, a postura de pausa cautelosa adotada pelo Fed – mantendo os juros estáveis e destacando a necessidade de dados adicionais para agir – tende a reforçar entre investidores a percepção de que o ciclo de altas chegou ao pico. Assim, o mercado passou a antecipar cortes de juros modestos mais adiante, à medida que aumentou a crença de que a próxima movimentação do Fed será de afrouxamento caso a inflação continue arrefecendo e os riscos de crescimento se materializem. De fato, indicadores de expectativa extraídos dos mercados futuros passaram a embutir um ou dois cortes de 0,25 ponto percentual na taxa básica até o final do ano, sinalizando que os agentes esperam algum alívio monetário nos próximos trimestres. Essa precificação se alinha com a comunicação do Fed de que está pronto para ajustar a política se necessário, e reflete a leitura de que a inflação pode ceder gradualmente enquanto os choques (como as tarifas comerciais) pesam sobre a atividade.

Ao mesmo tempo, a ênfase contínua do Fed na luta contra a inflação impõe certa moderação nas expectativas mais otimistas do mercado. Como não houve indicação de cortes iminentes – pelo contrário, o Comitê frisou que a inflação ainda exige atenção – os investidores devem permanecer cautelosos. Isso provavelmente resulta em um comportamento contido dos juros de curto prazo (sem queda abrupta imediata), pois o Fed deixou claro que qualquer flexibilização dependerá de confirmação de enfraquecimento da inflação e da economia. Já os juros de longo prazo podem refletir tanto a expectativa de inflação menor no futuro quanto um prêmio de risco pelo ambiente incerto, podendo oscilar conforme evoluem as perspectivas de médio prazo.

Em termos de mercado acionário e outros ativos de risco, a reação esperada seria de relativo alívio pelo fato de o Fed não sinalizar aperto adicional no curto prazo, o que tende a favorecer as ações e outros ativos sensíveis a juros. No entanto, esse otimismo seria contido pela preocupação inflacionária destacada na ata – ou seja, o mercado deve manter atenção aos próximos dados de inflação, ciente de que um eventual revés nesse front poderia reacender apostas de alta ou postergar cortes. Em suma, a comunicação do FOMC em maio de 2025 provavelmente ancorou as expectativas numa via intermediária, levando a um ajuste suave para baixo nas curvas de juros futuras (precificando política ligeiramente mais branda adiante), mas sem euforia excessiva, dado o tom prudente e condicional adotado pelo Fed.

Possíveis Mudanças Futuras na Política Monetária e Projeções do Comitê

A ata e as informações associadas oferecem pistas importantes sobre possíveis passos futuros do Fed, bem como sobre as projeções econômicas relevantes que embasam essas expectativas. O cenário traçado sugere que o Fed poderá eventualmente mudar a direção da política monetária – de contracionista para neutra ou mesmo levemente expansionista – caso se confirmem certas condições. No curto prazo, o Comitê sinaliza a intenção de manter os juros no patamar atual até que haja maior clareza. O próprio Chair Jerome Powell, em sua coletiva pós-reunião, enfatizou que não há urgência para cortes imediatos, afirmando que “o correto é aguardar por maior clareza” sobre os rumos da economia e que “não estamos numa situação em que possamos agir de forma preventiva”, ou seja, o Fed esperará sinais concretos de desaceleração (por exemplo, piora nos dados de emprego) antes de considerar reduzir os juros. Ainda assim, mais adiante em 2025, caso a inflação entre efetivamente em trajetória de convergência à meta e os choques (como as tarifas comerciais elevadas) freiem mais intensamente o crescimento, a expectativa predominante do mercado e de muitos analistas é de que o Fed inicie cortes graduais na taxa – possivelmente dois cortes de 0,25 p.p. ainda em 2025, conforme algumas projeções privadas – seguidos de um ciclo moderado de afrouxamento em 2026. Essa visão baseia-se na ideia de que, com a inflação sob controle e o desemprego em leve alta, a política poderá migrar para um viés mais acomodatício a fim de sustentar a economia. Vale ressaltar que qualquer decisão futura dependerá fortemente dos próximos indicadores, mantendo o Fed em um modo reativo aos dados.

No que tange às projeções econômicas do Comitê e de seu staff, a reunião de maio de 2025 trouxe revisões importantes que influenciam essas decisões esperadas. A equipe técnica (staff) do Federal Reserve atualizou suas previsões e passou a projetar um crescimento econômico mais fraco em 2025 e 2026 em comparação com a estimativa divulgada em março. Esse ajuste se deve principalmente ao impacto negativo esperado das novas tarifas comerciais anunciadas, que devem exercer um arrasto maior sobre a atividade do que se supunha anteriormente. Com a demanda agregada arrefecendo mais cedo e de forma mais acentuada, prevê-se uma abertura do hiato do produto ao longo do horizonte: a projeção indica que o desemprego subirá significativamente, ultrapassando a taxa natural até o final deste ano (2025) e permanecendo acima do nível de pleno emprego até 2027. Em outras palavras, o Fed antevê um enfraquecimento substancial do mercado de trabalho nos próximos trimestres, cenário compatível com uma eventual necessidade de afrouxamento monetário futuro para apoiar a economia.

Ao mesmo tempo, as projeções de inflação foram ajustadas para cima no curto prazo. De acordo com o staff, as tarifas recentemente impostas devem elevar sensivelmente a inflação ao consumidor em 2025, embora esse efeito deva diminuir em 2026; a partir de então, projeta-se a desinflação gradativa, com a inflação retornando à meta de 2% por volta de 2027. Esse quadro projeta um desafio de curto prazo para o Fed – inflação ainda acima do desejável enquanto o crescimento perde fôlego. A ata ressalta que permanece elevado o grau de incerteza em torno dessas projeções, especialmente devido às políticas comerciais e outros fatores fiscais e globais. Os economistas do Fed agora avaliam que a probabilidade de a economia entrar em recessão é quase tão alta quanto o cenário básico de continuidade da expansão, refletindo os riscos baixistas significativos. Ao mesmo tempo, apesar da elevação na projeção de inflação para 2025, os riscos para a inflação projetada seguem inclinados para cima nos anos subsequentes – indicando preocupação de que pressões inflacionárias possam se mostrar mais persistentes, em parte devido às recentes altas em algumas medidas de expectativas de inflação.

Diante desse panorama, as futuras decisões de política monetária do FOMC deverão equilibrar cuidadosamente dois objetivos: garantir a queda da inflação para 2% e amparar a economia caso a desaceleração se agrave. Se a inflação não ceder conforme projetado – por exemplo, se choques de oferta ou expectativas desancorarem – o Fed pode manter os juros em patamar restritivo por um período prolongado ou até considerar novas altas, adotando uma postura mais hawkish. Por outro lado, se a inflação continuar em declínio e os sinais de enfraquecimento econômico (atividade e emprego) se tornarem mais evidentes do que já são esperados, cresce a probabilidade de cortes nos juros. Esses cortes seriam muito provavelmente graduais e dados a conta-gotas, iniciando quando o Comitê tiver confiança de que a inflação retornará à meta de forma sustentável. Conforme as sinalizações atuais e as projeções indicam, o consenso é de que qualquer mudança futura será compassada e comunicada com antecedência, possivelmente ocorrendo no final de 2025 ou início de 2026.

 

 


Em suma, como podemos perceber nas discussões da ata de maio de 2025, juntamente com as previsões do FedWatch, as probabilidades de cortes de juros só são visíveis a partir de setembro."

 Sugerem um Fed em compasso de espera, mas pronto para mudar o rumo da política conforme necessário – seja endurecendo o combate à inflação caso esta persista, seja afrouxando os juros no momento oportuno para evitar que riscos recessivos comprometam o mandato de máximo emprego.  As projeções econômicas internas – de menor crescimento e inflação temporariamente alta, porém declinante no médio prazo – fornecem o contexto para essas decisões esperadas, indicando que o Comitê terá de avaliar constantemente qual risco (inflacionário ou recessivo) se mostra mais premente ao calibrar os próximos passos da política monetária.


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