Resumo em 4 pontos
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Inflação desacelera: Núcleo do PCE de abril veio em linha 2,5 % ano/ano e o PCE amplo caiu para 2,1 %, menor ritmo desde 2021 e ligeiramente abaixo do consenso (2,2 %).
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Criptos em queda: Mesmo com o dado benigno, o valor de mercado cripto recuou 2,8 %; liquidações superaram US$ 700 mi em 24 h. Bitcoin, Ether e o índice GMCI 30 caíram ~3 %, enquanto XRP, SOL, ADA e DOGE perderam ≥4 %.
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Volatilidade amplificada: Liquidez enxuta desde 2024 faz com que choques modestos — como o post de Trump sobre China — gerem oscilações maiores, especialmente em altcoins.
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Próximo catalisador: Com o PCE digerido, o foco passa para a reunião do Fed em 17–18 jun; CME FedWatch aponta ~98 % de chance de manutenção dos juros.
Bitcoin e o mercado cripto em geral continuaram em baixa nesta sexta-feira, apesar de o índice de Despesas de Consumo Pessoal (PCE) núcleo de abril — a métrica de inflação preferida do Federal Reserve — ter ficado em linha com as expectativas dos analistas e apontar o menor aumento anual desde o início de 2021.
O PCE núcleo subiu 2,5 % em base anual, enquanto o PCE amplo desacelerou para 2,1 %, abaixo da estimativa de 2,2 %, segundo o Bureau of Economic Analysis.
Aurelie Barthere, analista-principal de pesquisa da Nansen, disse que os mercados provavelmente vão ignorar o dado por se tratar de um indicador defasado de inflação.
“Em abril, a tendência da inflação nos EUA mostrou desinflação em vários componentes”, afirmou Barthere ao The Block. “Por isso, acredito que um PCE núcleo discreto seja algo benigno para as criptos.”
Os mercados financeiros permaneceram no vermelho após a divulgação do PCE. A capitalização total do mercado cripto caiu 2,8 %, com liquidações ultrapassando US$ 700 milhões em 24 horas, impulsionadas pelas quedas de preço do bitcoin e do ether, de acordo com dados da CoinGlass.
Em poucas palavras:
O número do núcleo do PCE de abril até veio “tranquilo” (+0,1 % no mês; 2,5 % em 12 meses), mas foi só um alívio parcial. Para um mercado que já apostava em cortes de juros rápidos, isso não bastou – e daí a reação de queda nas bolsas e leve alta nos rendimentos dos Treasuries.
1. O que saiu, exatamente?
Indicador | Abr/25 | Projeção | Mar/25 | Observação |
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Núcleo PCE m/m | 0,1 % | 0,1 % | 0,0 %* | Segunda leitura < 0,2 % seguida |
Núcleo PCE a/a | 2,5 % | 2,5 % | 2,7 % | Menor desde mar/21 |
PCE cheio a/a | 2,1 % | 2,2 % | 2,3 % | “Headline” perto da meta |
*Março foi revisado de “estável” para +0,1 % (Investing.com, BEA, Investing.com)
2. Por que, então, o clima azedou?
Fator | Como pesa no humor do mercado |
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Ainda acima da meta | 2,5 % não é 2 % – o Fed quer “vários meses” de leituras < 0,2 % para se sentir seguro. |
Serviços “supercore” continuam salgados | Dentro do relatório, serviços excluindo habitação subiram ~0,3 % m/m (≈3,5 % anualizado), sinal de inflação pegajosa. (Não aparece na tabela do Investing mas traders vasculham essas linhas.) |
Sequência trimestral não convence | A média de 3 meses do núcleo ainda roda perto de 3 %, mostrando perda de fôlego, mas longe de “missão cumprida”. |
Renda e demanda firmes | A renda disponível saltou 0,8 % e o consumo 0,2 %; com demanda resiliente, o risco de a inflação reacelerar aumenta. (BEA) |
Probabilidade de corte de juros encolheu | Antes do dado, futuros do Fed funds apontavam ~65 % de chance de corte já em setembro; depois, caíram para cerca de 55 %. Juros terminais “mais altos por mais tempo” pressionam valuations, sobretudo de techs. |
Movimento imediato dos ativos | O rendimento do Treasury de 10 anos virou para cima logo após o release (embora tenha fechado o dia um pouco mais baixo), e as bolsas inverteram ganhos. (Reuters) |
Recado do Fed | Mary Daly (Fed-San Francisco) chamou o número de “alívio, mas incompleto” – ecoando a visão de que o trabalho ainda não acabou. (Reuters) |
3. Moral da história
Mesmo “em linha” com o consenso, o PCE não trouxe a surpresa positiva que o mercado queria para cravar cortes rápidos. A inflação está caindo, mas devagar; a parte de serviços segue pegajosa; e a economia não mostra frio suficiente para forçar o Fed. Resultado:
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Taxas futuras sobem → Treasuries caem/ficam voláteis → ações, principalmente as de crescimento dependentes de múltiplos altos, sentem.
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O mercado só “gostaria” dos dados se visse uma trajetória clara rumo a ≤ 2 % nos próximos meses.
4. O que acompanhar agora?
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Relatório de empregos (6/jun) – salário-hora e criação de vagas podem reforçar (ou aliviar) a pressão.
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CPI de maio (12/jun) – outra peça-chave antes da reunião do FOMC de 18-19/jun.
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Fala dos dirigentes – Powell e companhia vão dizer se 0,1 % já é “suficiente”.
Até lá, a mensagem do núcleo do PCE é: progresso, sim, mas não o bastante para embalar rally duradouro.
Pressão macroeconômica
Dr. Kirill Kretov, especialista sênior de automação da CoinPanel, afirmou que a persistente incerteza macro, incluindo tensões políticas, continua a alimentar a cautela do mercado.
“Muitos desses movimentos são desencadeados por incertezas macroeconômicas, especialmente anúncios políticos vindos da Casa Branca”, disse Kretov ao The Block nesta sexta-feira.
A postagem mais recente do presidente Donald Trump na Truth Social sugeriu novas tensões comerciais com a China. Trump alegou que a China “violou totalmente” seu acordo com os EUA, embora não tenha dado detalhes.
“Manchetes desse tipo geram volatilidade nos mercados e, no caso das criptos, onde a liquidez foi amplamente retirada desde o fim de 2024, até catalisadores modestos podem provocar oscilações acentuadas de preço, especialmente em altcoins”, acrescentou Kretov.
Com o dado do PCE já absorvido, os analistas apontam para a reunião do FOMC em 17–18 de junho como o próximo catalisador relevante. A ferramenta CME FedWatch indica que o mercado precifica uma probabilidade de 97,9 % de o Fed manter as taxas estáveis.